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27 maio 2014

LIFE STYLE 1.99: Havaianas o chinelo sem classe.


HAVAIANAS: de pobre, barato e durável a fast-fashion*.
www.google.com.br/images " tá de Havaianas no pé"!

Marina da Silva

Havaianas, a quem possa interessar, é um chinelo made in Brazil, feito de borracha e que dava aos indivíduos que o usavam, até poucos anos atrás um certificado de classe...pobre!
Andar de chinelos “é coisa de pobre” e as Havaianas, um chinelo criado para a classe pobre atestava a casta, ops, o status quo da população que o usava. Dois eventos importantíssimos marcam o cenário político-econômico e social no  Brasil da década de 60:
·       *  A criação dos chinelos Havaianas pela empresa Alpargartas em 1962 para a classe pobre;
·        * A morte da democracia e o início do tenebroso período  de autoritarismo com o golpe de 31 de março de 1964 e a instauração da ditadura militar [1964-1984].
Dois dos piores males que mancham a nossa História: golpes políticos e o imenso fosso social entre ricos e pobres num país tão grande, dono de imensas riquezas e também imensa e continental  pobreza e miséria de enormes contingentes populacionais.

Mosaico a partir de www.google.com.br/images Se ficarmos atentos aos dados perceberemos que estamos, em relação à pobreza, no mesmo patamar de 1960!

Se para os ricos e a classe média tradicional clássica - aquela conhecida pelo povo como  "gente que come angu e arrota caviar”-  os chinelos Havaianas eram atestado de pobreza e miséria; para os pobres e miseráveis  conseguir comprar um chinelo Havaianas poderia significar vida remediada ou estar bem de vida, isto é, veja, À época, o mesmo que ter trabalho de carteira assinada...ou não!
 “Não deformam, não tem cheiro e não soltam as tiras” era o slogan das campanhas publicitárias da empresa Alpargatas, e ainda duuuuuuuuuuram!

www.google.com.br/images. Havaianas tradicional.

Confeccionado  em borracha resistente, os chinelos Havaianas eram o Ford T do automobilismo no início do século XX: modelo único, padronizado em duas cores: branca para a sola dos pés e azul claro para tiras e sola do chinelo. Com a ajuda de propaganda repetitiva na mídia escrita, falada, televisada, usando astros como Chico Anísio, Renato Aragão e Jô Soares,  as Havaianas caíram no gosto popular e da falsificação, rendendo à Alpargatas milhões de cruzeiros!
Mosaico a partir de www.google.com.br/images.


Surgem os modelos falsetas, genéricos, de baixa qualidade e mais baratos que as Havaianas, mas, porém, todavia...fediam, ressecavam, e as tiras machucavam os pés! Contra a falsificação? Campanha midiática pesada: Legítimas? Só as Havaianas! Dá-lhes propaganda! E de grão em grão a galinha Alpargatas ia enchendo os cofres, oops, o papo com um produto de qualidade e durável. Os chinelos Havaianas duravam tanto que era possível o reaproveitamento tracionando com pregos, clipes, arames, grampos de cabelos as tiras entre os dedos ou nas laterais o que permitia o uso por mais tempo mesmo com o desgaste na traseira calcânea!
Mosaico a partir de www.google.com.br/images. "Tudo o que é sólido se desmancha no ar". K. Marx. Menos as Havaianas que duuuuuuuuuuuuuuuuuuram!
www.google.com.br/images

Trinta (30) anos de império e os chinelos Havaianas, criados a partir das “precatas” dos pobres e miseráveis com sola de pneu e outros materiais, usando tiras de câmara de ar ou lona velha [hoje é de bom tom associar a inspiração do chinelo de pobre aos chinelos Zori do Japão], as Havaianas  aderiram aos modismos da Globalização e do Life Style 1.99! 
Rapidez, fluidez, flexibilidade, INOVAÇÃO, criatividade, desapego ao velho, rotatividade, mercado global, obsolescência programada! São as características da nova ordem mundial da produção capitalista que viu descerem ao limbo as maravilhosas taxas globais de lucro ali pelos meados dos anos 60, fase conhecida como “Gold age”, a era de ouro do capitalismo pós Segunda guerra mundial! 
 A acumulação capitalista hoje é flexível, mistura o novo, o velho e até reavivou a escravidão humana! Se Henri Ford foi travado pelo produto único e pela rigidez da produção em série fordista, a empresa Alpargatas S.A fincou o pé  num único modelo INOVANDO nas cores, estampas, tamanho do solado e tiras, customizando o chinelo de pobre e vendendo a peso de Euro, um produto fajuto glorificado por pesada estratégia de marketing e fazendo bilhões com um pobre produto pobre digitransformado* em produto de luxo!
Mosaico a partir de www.google.com.br/images. São Paulo Alpargatas é uma empresa do grupo Camargo Correia, a empreiteira que comanda parte das obras de mobilidade do PAC COPA! A Alpargatas abre nova fábrica em Montes Claros, norte de  MG e aposta no aumento de 40% da produção e na diversificação dos produtos Havaianas.


"A Alpargatas avaliou a possibilidade de construir uma fábrica na China, porém decidiu pela construção no Brasil pelo fato de Havaianas ter o País em seu DNA. É extremamente importante para nossos consumidores ter o made in Brasil estampado no solado de nossas sandálias", afirma Márcio Utsch, diretor-presidente da Alpargatas."


Embora em entrevista a Band News (mai/2014) o representante da Alpargatas tenha se recusado a responderem números... o custo da produção de um chinelo Havaianas variou o mínimo nesses 50 anos! Mas  o ataque midiático inflacionou o preço de um chinelo que até então todo pobre usava! O que era coisa de pobre virou fashion, chique nos pés de atores globais e internacionais! O mundo descobriu as Havaianas, diz  ele, e o chinelo nunca mais foi o mesmo...no PREÇO!

www.google.com.br/images. A partir de 17,90 no site oficial Havaianas, modelo simples.
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Havaianas combina com tudo: moda praia, esportiva, traje fino, enfim, um ultraje a rigor primavera, verão, outono, inverno!
www.google.com.br/images. Look da estação homem!

Nos anos 90 o Brazil as portas e pernas ao mundo, principalmente aos produtos made in China a partir de 1.99! Todo mundo foi produzir na China, comprar da China, revender produtos made in China: “Deus fez o mundo, o resto é feito na China”, uma máxima que corre nas redes sociais! As Havaianas, agora "chique nus úrtimus", ganhou outros ares, mares, continentes: o mundo se abriu para as Havaianas. Os chinelos Havaianas além de sumir com a conotação pejorativa "Chinelo de pobre" substituiu o lema “o que é barato é durável” para o lema o que é chique é FAST-FASHION ou modinha; a cada instante o mesmo produto se apresenta como um produto novo! 
E qual a mágica por trás do milagre de produto 1.99 vendido a 99,00?
Curto e grosso? Investimento pesado em marketing subjetivo: o que vende os chinelos Havaianas é o que se vende à cabeça do consumidor! 

www.google.com.br/images.

A propaganda é a alma do negócio e se bem elaborada e inculcada nas mentes, repetidas vezes, por astros e estrelas é dinheiro fácil, líquido e certo! 
A globalização fortaleceu o estilo de vida 1.99: alto luxo produzido em países de Primeiro Mundo para uma pequena casta de milionários e bilionários e o lixo falseta, genérico made in China para os demais mortais do planeta! Um jeito de viver pobre, de necessidades básicas,  com aceitação do chulo, do cretinismo e idiotia da população mundial e a convivência com o mínimo de desenvolvimento humano, e prostituição geral imposta pelo neoliberalismo que se sustenta na escravidão, na “terceirização” do mundo do trabalho e da vida dos trabalhadores, do uso do falseta, genérico como valor universal!
www.google.com.br/images. Num é essa Coca Cola toda, mas é tipo net!

O life style 1.99 é a eterna voga, principalmente na moda! A mão de Midas agrega valores a produtos fajutos, genéricos, customizados (cores, tiras finas, strass, bandeiras nacionais, salto plataforma, etc) impondo através da “lavagem midiática” subliminar:
 “Todos os famosos usam Havaianas”; Havaianas é bom pra cachorro”; um comportamento de consumo que não compra o produto, mas a ideia por detrás dele! O pobre ficou chique? Claro que não! O pobre se ferrou como sempre, usando chinelo de borracha vagabundo, mas pago a peso de ouro! Cinqüenta anos após sua criação os chinelos Havaianas são o ícone mundial do Life Style 1.99, da vida chula, genérica, de massa, gado indiferenciado onde à riqueza material se contrapõe um franco processo de desumanização de homens e mulheres! 
http://urbancamou.blogspot.com.br/2010/09/fashion-pinel-pinel-x-havaianas.html

"DAS HAVAIANAS DE € 450 ÀS MALAS DE € 35 MIL, A PINEL GARANTE SEU ESPAÇO" 


Se a propaganda é a alma do negócio, se pobre gosta de luxo, logo até pobre usa Havaianas! Um marketing sensacional, paradoxal, um negócio da China, economicamente falando!
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HAVAIANAS, TODO MUNDO USA????