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18 junho 2014

BRAZIL: ECOFARSA E IRRESPONSABILIDADE AMBIENTAL

CAPITALISMO VERDE
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Marina da Silva
De todas as fases históricas de acumulação capitalista, a atual, - conhecida como Acumulação Flexível - se dá amparada nas novas tecnologias de produção, economizadoras de trabalho vivo; novas formas de gerenciamento e de relações de trabalho; na evolução dos meios de transporte, comunicação, informatização e paradoxalmente tem como fundamento basilar a extração de mais valia absoluta, a expropriação e exploração da mão de obra de bilhões de indivíduos em todo o planeta.
www.google.com.br/images. "Deus fez o mundo, O RESTO É PRODUZIDO NA CHINA".Autor desconhecido.

A possibilidade de fragmentação do processo produtivo e sua dispersão geográfica geraram uma disputa por empresas permitindo a obtenção de matérias primas, isenções fiscais e outras benesses dos Estados competidores e mão-de-obra barata em contratos precários, driblando a legislação trabalhista, desregulamentando a parca proteção social, camuflando a relação de emprego, reavivando a escravidão. Esta acumulação torna-se ainda mais potente e ganha robustez com a sedução e alienação da farsa verde: um discurso ecologicamente correto, politicamente sustentável, responsavelmente social.
Mosaico a partir de www.google.com.br/images

Capitalismo verde, produção verde, produto verde, economia verde! Forjados pela consciência enviesada verde, os consumidores (antes, cidadãos e cidadãs) padecem do encantamento verde e não se dão conta que o discurso do desenvolvimento e negócios sustentáveis, cada vez mais se escora na exploração predatória e irresponsável dos recursos do planeta. Nunca se produziu tanto, nunca se usou tanto a mão-de-obra de baixa qualificação, nunca se usou tão avidamente os recursos naturais, nunca se consumiu tanto fomentando a obsolescência programada dos produtos.

www.google.com.br/images. Belo Horizonte. Serra do Curral. Décadas de degradação ambiental sustentam economicamente a MBR.

Um exemplo: Minas Gerais sustém o crescimento de 10% da economia capitalista chinesa (que vende ao mundo inteiro produtos 1,99 - leia-se, baixa qualidade, descartáveis, além da suspeita cancerígina), queimando toda a riqueza do cerrado nas inúmeras siderúrgicas, substituindo-o por gigantescas florestas homogêneas de eucalipto! 
Isto sem falar na depredação das montanhas como a belíssima serra do Espinhaço, cartão postal dos mineiros. Hoje se grita pela salvação do planeta, patrulham-se crianças ainda no útero das mães usando ecobags, roupas, sapatos, chinelos, bolsas, acessórios, bijuterias, móveis e tudo... de plástico; tanto de altas grifes como os genéricos, falsetas, pirateados!
www.google.com.br/images. A febre chinelos Havaianas, um produto de borracha criado para pobres e hoje vendido a peso de ouro!

Ao lado da falácia verde impera outra maior: o empreendedorismo individual, que pode ser traduzido no individualismo exacerbado, na alta competitividade e principalmente no desapego aos direitos trabalhistas, à proteção social do trabalho, conquistas históricas que envolveram muitas lutas e mortes ao longo de séculos! O empreendedorismo a la Eike Batista, o X-man, que em 1 ano - 2009 - triplicou seus 7.5 bilhões de dólares  e se transformou no 8º homem mais rico da galáxia é para predestinados, os eleitos do deus capital!
Para os mortais o jeito é ser inovador, criativo, sem apego a salário, jornada, local de trabalho e outros direitos sociais. Os indivíduos são comprimidos pelo espaço/tempo: o trabalhador vai onde o trabalho está, acompanhando o movimento de horizontalização das empresas. Correr risco sem nenhuma contrapartida e se responsabilizar pelo fracasso é o que se exige do trabalhador na atualidade.
www.google.com.br/images. Mini masterchef é a versão júnior do Masterchef, reality show australiano de 2010 exibido na Discovery Home & Health 2014.

 A exploração se dá tanto na apropriação da força física (cumprir metas, ser polivalente, multifacetado o mesmo que fazer a sua tarefa e de outros dez ou mais trabalhadores) como da capacidade intelectual dos indivíduos (capital intelectual). O absurdo virou show de TV: para que RH-recursos humanos se podemos recrutar e selecionar os melhores e colocá-los para competir ao vivo e a cores com transmissão 24 horas nas TV? Big Brother; O Aprendiz e 1 contra 100 de Roberto Justus; Ídolos, etc. O setor de RH, mais do que nunca, darwiniano, sai aos poucos das empresas e ocupa a telinha: atores, cantores, chefs de cozinha adultos e crianças, estilistas, jornalistas, dançarinos, modelos, prostituição masculina/feminina de luxo. Milhões de internautas disputaram “o melhor emprego do mundo”, um big salário para cuidar de uma ilha paradisíaca e  mesmo Steve Spielberg seleciona roteiristas em reality show.
Mosaico a partir de www.google.com.br/images No Brasil terceirização é o mesmo que precarização do mundo do trabalho.

Explode no mundo inteiro o trabalho precário quase sempre divorciado dos direitos trabalhistas (terceirizado, subcontratado, estagiário, cooperativas ilícitas, voluntarismo ideológico/religioso, trabalho parcial, temporário, pejotização, isto é, trabalhador transformado em empresa e na maioria das vezes envolvendo muita informalidade e mesmo ilegalidade, trabalho informal, empreendedorismo social, análogo a escravo (seja lá o que for que isto signifique), trabalho escravo.
E se tudo pode ser pior; a acumulação flexível não só apropria como se faz baluarte da ecofarsa: ampara-se no ecodesenvolvimento sustentável do capital verde que se expande sem o menor esforço e com altíssimos lucros, ora associando-se sob os auspícios dos governantes nas PPP’s (parceira público privada) ora criando novas empresas para tomar posse de uma riqueza até então inimaginável: o lixo!
RRR: reciclar, reutilizar, reduzir! É a economia verde que só no Brasil em 2005 gerou um faturamento de cerca de US$ 7 bilhões, 500 mil empregos de catadores, 50 mil funcionários da indústria recicladora. O Brasil está entre os 10 maiores recicladores de papel e papelão do mundo. Em 2005 o país foi pentacampeão em reciclagem de latinhas: 89% do descarte, 9.4 bilhões ao ano, 26 milhões de latinhas recicladas por dia! É pouco! Propalam.
O lixo vem sendo disputado no braço: de um lado catadores versus urubus, ratos, escorpiões e outros bichos; do outro, empresas que cada vez mais adotam o “compromisso empresarial para a reciclagem”. O principal feito histórico vem da “exploração inteligente do gás do lixo”, uma energia “limpa” que será vendida, no caso do aterro de Gramacho na cidade de Duque de Caxias/RJ à Reduc- refinaria Duque de Caxias da Petrobrás.
O lixo é luxo e lucro: papel, papelão, latas de aço, vidros, garrafas pet, latinhas de alumínio, tetra park, lâmpadas, monitores, pneus, lixo orgânico, gás do lixo, móveis, artefatos de decoração, etc, etc e tal e o escambal também! Em Gramacho, o maior lixão (aterro sanitário) da América do sul, cerca de 1300 catadores se pegam nos tapas com urubus, correndo o risco de doenças, de atropelamento pelos tratores e caminhões ou serem soterrados pelo lixo!
”Não é lixo é trabalho” proclama a mídia, a porta voz dos capitalistas verdes, “o novo conceito do lixo _ diz sem esconder sua euforia André Trigueiro, apresentador do “Cidade e Soluções”/GloboNews – deixa de ser problema e passa a ser insumo energético”. Empresas verdes recebem o brasão da responsabilidade social, compromisso ambiental e créditos...de carbono, papéis com valor de mercado para serem negociados com empresas não tão verdes, aliás, sujas! Reciclar é pura magia, uma alquimia que transforma toneladas de lixo das classes abastadas do país (ou comprado do exterior como os 64 containers de lixo inglês vendido a empresários brasileiros)  em ouro verde e diplominha de responsabilidade ambiental.
www.google.com.br/images. Se a Melissa criou o plastic paradise a rede Globo, apesar do fracasso, criou a novela a base de plástico: Meu pedacinho de plástico, ops, recicláveis, oooops, chão! Dá pra reciclar todo o cenário e principalmente figurino!

Para os catadores, o elo mais importante, o portador da mais valia, reciclagem é trabalho duro, pesado, sujo, insalubre, que lhes garante meramente a sobrevivência no dia a dia, uma cidadania às avessas, de lixo, que não lhes confere nenhum valor social e apenas os torna mais e mais invisíveis. O repórter André Trigueiro que conduz o programa e seus entrevistados transitam daqui para ali no aterro de Gramacho sem dar mostras de que, apesar de enxergarem muito bem,  vêem as centenas de homens, mulheres e urubus revirando mais de 7 milhões de toneladas de lixo que chegam diariamente no lixão de Gramacho!



16 junho 2014

DUPLICAÇÃO DA AVENIDA ANTÔNIO CARLOS: UMA HISTÓRIA SEM FIM!


AS VIAS ABERTAS DA ANTÔNIO CARLOS.
Marina da Silva.

Não é a primeira vez que a Avenida Antônio Carlos, que liga o centro de Belo Horizonte a Pampulha e zona Norte tem suas vias expostas aos homens e máquinas.
A exposição mais recente é de 2002/03 data do início da atual duplicação de 3.9km, que após cinco anos (e duas recapeadas) ainda se encontra na segunda etapa. Uma verdadeira empreitada que chega a superar até mesmo os Doze Trabalhos de Hércules!
Uma empreitada de primeira para empresas que no Brasil sempre fazem obras de quinta lançando mão de terceiras.
Além de fazer vista, a obra deu o que falar pelo trabalho de um artista! Preocupados com a ocupação irregular, os túneis foram  enfeitados com muito concreto e um obra no mínimo surrealista: um bode dragão com chifres e barbicha num gordo corpo de Buda deu serviço para vereadores exorcistas! A arte não só cumpriu o seu papel – espantar sem tetos e mendigos - como quase sacrificou a reeleição de Pimentel. Então...
Com mais uma tonelada de concreto abateu-se o monstro de vez e pôs fim a saga televisiva. Prestígio igual nem o capeta do Vilarinho, outra lenda daqui.
Em 2008 a obra que era pavê, ou seja, só pra olhar, começou a ser consumida deixando a vista buracos, calombos e em muitos pontos um craquelê! Recapear! Foi a solução para uma lâmina de asfalto tão fina de fazer inveja a uma gilete. A segunda etapa começou quando Aécio, o governador, sentindo o desânimo de Serra (o líder nas pesquisas para presidente) com o fortalecimento de Dilma Roussef , resolveu se lançar candidato a presidência da república. Da noite para o dia, quase meados de 2009 choveu homens e máquinas na pista pondo abaixo – do hospital Belo Horizonte à praça dos peixes ali ao lado da rodoviária, casas velhas, prédios antigos, barracos e galpões. O trecho virou um campo de guerra e quase nada das antigas construções ficou de pé: botecos copos sujos, puteiros, casa de exorcismo e orações, igrejas evangélicas, jogo do bicho, galpão de obras sociais, o antigo cinema,  o posto policial, o Leguedê das roupas velhas!
Por um triz salvou-se o Hospital Belo Horizonte, o hospital Municipal Odilon Behrens, a antiga escola Municipal, o Mercado, a Polícia Civil e o lendário conjunto habitacional IAPI.
Limpeza geral e saneamento urbano acabou por deixar ao desabrigo dezenas de indivíduos que viviam por ali: mendigos, moradores de rua, os sem teto, os muitos filhos do narcotráfico   e sua cracolândia.
Uma pobreza e miséria imensa, incomensurável estão agora na superfície, escorrendo pelas artérias e veias abertas da nova via, testando e reinventando novos abrigos aqui ou ali, deixando exposto em carne via um descaso e descompromisso social que se escondia nos muitos quilômetros da avenida.
Hoje estão a olhos vistos, toda a miséria e indignidade em que vivem dezenas de pessoas que sobreviviam camuflados e escondidos nos lotes vazios, prédios velhos e construções abandonadas da Antônio Carlos. Um horizonte não tão belo da Belo Horizonte, uma das cidades mais importantes do país, capital de um estado riquíssimo que cresce a cada ano por mais de uma dezena de anos batendo os números de crescimento econômico do Brasil!